quinta-feira, 13 de junho de 2013

PODE SER A GOTA D`AGUA



 
UMA GOTA DE 20 CENTAVOS!
 
Vejam o excelente texto do jornalista Aurélio de Oliveira abaixo. Nos demais posts sobre a manifestação, vejam tb texto do jornalista Ricardo Kotscho que, aos 65 anos de idade, vivenciou a ditadura e sabe bem o que fala e,no texto "destaque" do blog, vejam como a manifestação se alastra até por outros países. O protesto deixou de ser apenas contra o aumento da tarifa de ônibus. Passou a ser pela liberdade de expressão. Afinal... estamos numa democracia ou não?
Texto do Aurélio:

Se me pedissem para escolher uma música para explicar o que vem acontecendo em São Paulo e em outras capitais, eu apontaria para a música Gota d’água, do Chico Buarque. Em um trecho da letra ele diz: “Deixe em paz meu coração. Que ele é um pote até aqui de mágoa. E qualquer desatenção, faça não. Pode ser a gota d’água!” E o prefeito Haddad fez! Foi desatento com a população paulistana e pingou uma gota de 20 centavos no apertado orçamento dos cidadãos. Deu no que deu!

Como explicou meu amigo jornalista João Franzin, da Agência Sindical, o Haddad acertou no conteúdo e errou na forma. Ele deveria, em rede pela TV, apoiado, sei lá, por um economista e por um advogado, explicar à população a razão do aumento. Foi desatento e essa gota de 20 centavos transbordou um pote até aqui de mágoa. Mágoa com o transporte público, mágoa com a Educação, mágoa com a Saúde, mágoa, mágoa, mágoa, mágoa...

O aumento não é incorreto, feito até abaixo da inflação. O problema foi a atitude de prepotência, característica de quem está no poder, com que ele aumentou as tarifas de transporte público. Sim, porque 20 centavos não paga nem a gota de adoçante que eu acabei de pingar no meu café de dois reais.

Por isso a cidade vem transbordando em manifestações onde já vimos de tudo, além de ver um povo pacífico em uma manifestação democrática. Vimos baderneiros, talvez teleguiados, promovendo quebra-quebra do patrimônio. Vimos policiais, em sua maioria despreparados para situações de pressão, usando balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Vimos um policial quebrando o vidro da própria viatura para incriminar manifestantes. Ficamos chocados com a imagem da jornalista da Folha com o rosto, depois de atingido por uma bala de borracha, coberto de sangue. Um fotógrafo, também trabalhando, pode perder a visão em um dos olhos pelo mesmo motivo: uma balaço de borracha. Vimos pessoas na varanda de um apartamento, fotografando a manifestação, sendo atingidas por bombas de gás. Também vimos um jornalista sendo preso porque estava portando uma perigosíssima... garrafinha de vinagre! Depois ouvimos um comandante da PM dizendo que vinagre também pode ser usado para fazer bombas. Rimos à beça disso!

O que podemos inferir disso tudo, na minha opinião, é que há algo de nobre no reino da pauliceia, ainda que desvairada como diria o grande Mário de Andrade. A mim parece que um paradigma está sendo quebrado: o do carneirismo. É verdade! Essas manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô é um exemplo eloquente de que o povo não é mais besta e exige seus direitos! Não aceita mais imposições que vêm de cima para baixo. Baixar um aumento sem abrir um diálogo com a sociedade civil é um perigo para a democracia. Pode ser a gota d’água...

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